segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um conto dessa vida

Eu conheci um homem, e esse homem tinha cachos na cabeça bem pequenininhos grudados no couro. Esse homem cantava, cantava canções românticas que fazia com que as saias voassem. Canções inteligentes que perturbavam os caichos. E as pequenas cantigas que brincavam com minha imaginação.
Ele sorria com todos os dentes e andava rápido.
Ele era forte, mais forte que todos os homens do mundo. Ele era engraçado e ao lado dele eu me sentia segura, sem saber que a insegurança andava de mãos dadas com ele.
Até que um dia ele saiu andando. Já fazia pequenas caminhadas, mas nesse derradeiro dia começou a andar para nunca mais parar, andava como se estivesse partindo finalmente. Queria poder partir voando, ou se desfazer em fumaça, e partir no ar, se pudesse se afundava na terra e ia cavando buracos no chão vermelho, mas só podia partir andando.
Com passos precisos, mas sem saber para onde ir, com o olhar seguro como se soubesse, olhando para frente vendo ao redor sem dar importância, apenas registrando cada figura, cada massa, bloco ou corpo que se mexia.
Guardou esses registros na mente, pois para onde estava indo era necessário muito repertório imaginário, pois dali para frente era a única coisa que o alimentaria, imaginação, pensamentos, nada de idéias, elas não progrediam.
Andou por ruas, becos, praças, bares, lojas, hospitais, avenidas e estradas.
Sempre com o mesmo ritmo e o mesmo olhar, a mesma determinação, nem mais nem menos.
Depois de um longo percurso ele ao andar era envolvido por um equilibrio, em tudo. Cada passo que era gerado pelo desiquilíbrio, provocava o contrario. Esse equilíbrio estava em cada molécula em todos os ossos.
Andou e andou, segundos ou anos não se sabe. A única coisa que se sabe(e quem disse foi uma das poucas pessoas de palavra confiável que existe nesse mundo, que viu e depois comunicou a família) é que ele só parou de andar quando avistou um canavial. Parou a alguns metros de distância, olhou com aquele olhar sem desequilíbrio, castanhos, por exatos três minutos observou o canavial.
E não se sabe o que ele queria, mas nesse momento ele viu nas canas o destino, viu o que procurou durante tanto tempo.
Entrou no canavial e continuou andando, agora não mais calado, recitava suas palavras cheias de figuras que guardou. Cada palavra era direcionada para uma pessoa. Quase nunca eram repetidas, e se repetidas eram usadas de maneira cada vez mais inusitada. Eu não sei usar as palavras assim como ele usou, e muitos curiosos tentaram entender o raciocínio que juntavas as palavras, mas nunca chegavam nem perto de descobrir e nem perto de acha-lo no canavial.
As crianças da redondeza achavam aquele acontecimento curiosíssimo, e depois dos deveres, passavam as tarde inteiras ao redor do canavial, sentadinhas ouvindo as combinações palavriásticas, e gargalhavam. Algumas saiam de suas casa de noite e passam as madrugadas olhando as estrelas e se divertindo com ele.
E depois de tanto esperar que ele saísse, a família resolveu procura-lo e traze-lo de volta.
Procuraram e nada nem vestígios, só de ouvia a voz, por todo o canavial.
A família queria derrubar o canavial só assim o achariam, os proprietários não queria de jeito nenhum, muito dinheiro. A família comprou o canavial.
E aos poucos foi derrubando, diariamente. No final de 73 dias as canas foram todas cortadas e ele nunca foi encontrado, a não ser os ruídos das palavras e suas figuras.


-"Dedico esse texto à Ailton Rosa e suas palavras"-

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Intimidade física


"Conheceram-se. Ele a conheceu e a si próprio, pois na verdade jamais soubera quem fosse. E ela o conheceu e a si própria, pois mesmo já se conhecendo, nunca pudera se conhecer assim."

O Barão nas arvores - Italo Calvino -

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Menina Chora Menina

Dizem que tenho olhos grades. Eu gosto dos meu olhos, gosto de poder vê-los, aprendi a usa-los, e sei quando preciso usa-los, apesar de que tem vezes que perco o controle e eles saem iluminando mundo afora e contando para o mundo os terremotos, as tempestades, e os arco-iris do meu peito.
Conforme agente vai crescendo, vai deixando de chorar, as pessoas não choram em publico, teoricamente é inadmissível chorar em publico.
Evitei chorar, tive milhões de motivos choráveis, poderia ter chorado quando você se atrasou 20 minutos e eu fiquei sozinha naquela multidão, ou quando eu me atrasei 1hora e meia e você me deixou sozinha no meio da Av Paulista.
Eu deveria ter chorado quando descobri a minha máscara, deveria ter chorado quando avistei meu pai na platéia de um teatro para assistir as duas filhas dançando Cartola. Deveria ter chorado depois daquele gozo, deveria ter chorado todas as noites em gratidão e louvor. Deveria ter chorado quando minha melhor amiga me contou por telefone que operaria para retirar pedras dos rins, (o que adiantaria chorar).
E os meus olhos, por terem uma autonomia pontuada, as vezes quando eles percebem que não tem ninguém olhando, choram. Choram gostoso e sem motivo, e rapidamente passa, não fica lágrima sobre lágrima.

Você me faz chorar.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

À frente e Avante.

Até hoje existiram vários exércitos que lutaram por várias causas, várias causas loucas, algumas absurdas. Quantos milhões de soldados morreram por motivos que eles próprios não sabiam qual era? Várias donzelas perderam seus amados, varias famílias perderam seus varões, muito sangue foi derramado por terras, armas, ouro. Muitos lutaram com lanças, bombas, rifles, flechas, gases, venenos. Nomes foram reconhecidos e outros totalmente esquecidos.
Dessa mesma forma acontece na obra de Deus. Existe um exército com soldados espalhados pelo mundo inteiro, soldados que sofrem fisicamente por batalhas espirituais. Alguns desses soldados são escolhidos desde o ventre materno, outros foram chamados, aliás, muitos são chamados diariamente, mas poucos são escolhidos. Nos exércitos comuns os soldados choram por suas esposas, famílias, amadas, filhos, nesse exercito, os soldados choram por todos, choram pelos soldados que espanaram, choram por todas as almas, que ainda não tiveram a oportunidade de serem chamados e de ouvir a voz do Rei. Diariamente os soldados são mutilados pelo inimigo, mas continuam lutando, incessantemente. Os exércitos comuns saem em batalha por bens matérias, esse exército sai em batalha levantando a bandeira de Cristo. Os soldados comuns cantam hinos pelas suas pátrias, esses soldados, do qual eu tenho a honra de fazer parte, louvam e adoram a Deus de Glória. Esses soldados não lutam contra carne nem sangue, mas sim contra principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Para poder sair em batalha precisa-se de uma armadura, “tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida à couraça da justiça, e calçado os pés na preparação do evangelho paz; Tornando sobre tudo o escudo da fé [...] Tomai o capacete da salvação, e a espada do Espirito, que é a palavra de Deus” Ef. 6.14.
Esses soldados se alimentam com o fogo celestial, que vem do céu. São liderados por um cavaleiro que vem em cima de um cavalo branco, cavaleiro que tem a melhor medalha de “honra ao mérito” de todas, esse cavaleiro fez o maior sacrifício de história humana, e salvou o maior numero de pessoas que se possa imaginar, esse cavaleiro, príncipe dos príncipes, salva até hoje.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Hora Íntima


Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: — Nunca fez mal...
Quem, bêbado, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: — Rei morto, rei posto...
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: — Foi um doido amigo...
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançara um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: — Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: — Não há de ser nada...
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

Rio, 1950

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

As Duas Flores





São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.


Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.


Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.


Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!



Livro: Espumas Flutuantes

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/newbb/viewtopic.php?topic_id=260#ixzz0wQlY7FS1
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives


-Gozado meu amor, pois te olhando aqui do alto você me parece tão pálido, como se estivesse sem vida, como uma bela estátua grega com todos seus detalhes humanos que nada vale sem alma, calor.
-Estranho, assim também te vejo aqui de baixo. Branca a distância e a saudade prematura que está matando esse momento colorido de amor que tivemos juntos, a distância morta e fria toma lugar da graça que tivemos a pouco, mas eu corro pra não te esquecer. Nunca.

"Todo mundo tem uma boa história pra contar."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Coisas #1


Essa vida é uma loucura mesmo. Não estou conseguindo administrar esse pensar, esse andar, esse curtir. Mil coisas que entendo durante o dia me perseguem durante a noite, é legal assim também. Tem alguém me perturbando, e tenho certeza que É eu.
É a cana que se corta, e a flecha que se lança e nem alcança o lugar que eu queria, queria, pois no instante seguinte deixei de querer, já dizia aquela musica chata.
Lanço-me no pélagos da solidão a cada segundo, me arrependo e volto, Mergulho nesse mar e me redimo das coisas que me ataranto.
Aquele amor deixou-me ir, difícil essa liberdade, difícil me encontrar nesse mar vasto e profundo. Nem sei meu lugar, e entre mascaras e escatologias humanas, descubro mais uma coisa, descubro que mesmo sendo muito pensador esse povo mundial, fisicamente, é tudo do mesmo jeito, a violência habita em todos, em alguns quieta, em outros gritante, o medo persegue a todos, alguns na calada da noite, outros em plena Paulistas ao meio-dia.
Todos sentem essa sede sexual, essa fome humana. Mas alguns pensam em santos, outros em carne, outros em contas, outros em palcos, outros em latas, outros em cavalos, outros em noticias, todos, digo, todos, sem deixar de pensar. E afinal, o que me faz diferente de quem? O que torna meu amor maior ou menor do que o de qualquer fulano?
Ao mesmo tempo, sinto que preciso de uma alto-suficiência.
Acho que vou menstruar.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso
A lua girou, girou
Traçou no céu um compasso

Eu bem queria fazer um travesseiro dos seus braços
Eu bem queria fazer...

Travesseiro dos meus braços
Só não faz se quiser
Um travesseiro dos meus braços
Só não faz se não quiser...

Sustenta palavra de homem
Que eu mantenho a de mulher
Sustenta a palavra de homem...
Que eu mantenho a de mulher


PS:Em breve, Núcleo Pélagos com o espetáculo "Volúpia".

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Coisas#

Pessoal!

Estou atolada de taréfas a serem cumpridas. Não estou conseguindo dar a devida atenção ao meu blog. Estou louca pela vida, apaixonada por descobertas, e pronta para cair de um precipício(caio a cada minuto).
Por isso venho pedir paciência, e que vocês assistam o espetáculo no qual estou participando, BLECAUTE! (mais informações, postagem anterior.)

Beijos

Leila Rosa

quarta-feira, 30 de junho de 2010

UNICAS APRESENTAÇÕES!



10 à 31 de Julho às 16h.
Teatro VIVO.
Av. Chucri Zaidan, 860 Morumbi.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Aviso da Lua que menstrua

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

De Elisa Lucinda

Cada um no seu quadrado. LONGE DO MEU DE PREFERENCIA.

E daí se o espeço é pequeno e não tenho como me mexer.
Uma vez aprendi que cada temos, assim como na musica, um quadrado. E cada um ocupamos o nosso quadrado da nossa forma, alguns pouco espaço, alguns metade, e poucos ocupam o quadrado inteiro. Aprendi que ás vezes ao dizer o que pensamos ocupamos todo o nosso quadrado, e que em outras ocasiões ocupamos o quadrado vizinho.
Hoje, estou encolhida no meu quadrado. Pedindo socorro de qualquer lugar. Alguém que saiba me dizer do que vale tudo isso, do que vale tanta espera, tanto, sufoco. Será que vale pena todo esse preparo em vão.
E e se eu estou fazendo algo errado me diga por favor. Por que eu estou tentando me acertar com o meu redor, mas quanto mais eu tento concertar e entender, mais me afasto das pessoas das coisas e do entendimento.
E esse quadrado vai ficando cada vez maior ao meu redor. Eu fico construindo pessoas, ambientes simpáticos, quando penso que no fim está tudo bem, algum detalhe me escapa do controle, e o céu azul que existia no meu quadrado se transforma em uma tempestade.

Vou continuar esperando Naquele que me fortalece, Ele fortalece de verdade, é a única certeza que tenho agora.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

BIZUNGA



Porque eu fui uma menina com uma flor, e estou esperando você voltar, mesmo sabendo que não está voltando pra mim, e estou aqui nesse quarto pensando que talvez seja melhor dormi aqui, sozinha, desse outro jeito que não é mais o jeito de nós dois.
Porque eu fui uma menina com uma flor, e você o meu saudoso Vinicius, que me compunha cantigas, me fazia rir, chorar, sofre, morrer e ressuscitar no instante seguinte me desmanchando em tantos suspiros fortes, quentes que liquidava todo acontecimento em qualquer espaço, que não fosse aquele onde você era eu e eu era só você e mais nada. Depois nos suicidávamos mais um pouco, pra terminar a seqüência de pecados carnais. Aquele quarto, onde está tudo do mesmo jeito, as mesma fotos, os mesmo móveis com os mesmos livros, o mesmo cheiro de duas carnes e o peixe. Você fala mal de mim pra ele, mas ele não liga, porque é muito meu chapa, e fui eu que o comprei.
E porque eu fui uma menina com uma flor, e corria de madrugada pra te ver, só porque você gemeu mais baixo, e você canta tão desafinado que ninguém mais tenta concertar, e fica todo mundo rindo, porque você é engraçado mesmo sem querer ser.
Porque eu fui(sou) uma menina com uma flor, e daria tudo para poder estar aí, e essa distanciam já existia antes de você partir. Porque sem você, não sei nem chorar, sou chama sem luz, jardim sem luar, e porque sem você, meu bem, eu (não)sou alguém.

Eu sei que muitas pessoas já se espessaram sobre isso, mas esse blog é meu e como já disse posso repetir o que quiser. Rs. E por mais que eu use palavras parecidas quero falar sobre o teatro.
Com o grupo de dança que faço parte, fizemos algumas modificações nosso local de trabalho, e montamos uma caixa-preta.
Conversando com uma colega, começamos a dizer as coisas que podem acontecer dentro de um palco. O palco é sagrado.
Dentro dessa caixa preta mágica, podem-se construir galáxias, mil mundos indescobertos, podemos ser um, dois, três, quatro cinco pessoa, pode-se matar, morrer, ressuscitar, nascer, podemos amar, “amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar sempre, e até de olhos vidrados, amar”. Podemos voltar a qualquer tempo, ir e voltar no tempo, na vida. Hoje, dentro dessa caixa, pode-se falar de qualquer coisa, de qualquer forma, sobre qualquer pessoa, em qualquer lugar. Isso não quer dizer só acontecem manifestações boas dentro dessa caixa, pois infelizmente, ou felizmente, nem todos sabem lidar com essa liberdade.
Sinto-me feliz, por descobrir essa “coisa de teatro”. Antes que tudo em mim acabe, quero poder muitas coisa, no maior numero de palcos possível, tudo com respeito suficiente, para também ser respeitada. Quero ser linda, feia, boa, “boua”, mãe, amante, monstro, bicho, riso, choro, nada, quero ser dançante, quero ser íntima ao publico.
Não sei o dia de amanhã, mas hoje quero ser desse jeito até o ultimo suspiro.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

.15 DE JUNHO DE 2010. Copa do Mundo da Africa - Brasil x Coréia do Norte

Esse foi o primeiro jogo do Brasil na Copa de 2010. E assim como em todas as copas, todo mundo se preparou para assistir os jogos. Esse primeiro jogo aconteceria as 15:30h, e todos trabalhariam meio período.
Eu tenho 19 anos e faço curso técnico de segunda a sexta-feira, das 9 às 13hs. E nessa terça-feira como em todas as outras, peguei o meu ônibus no Terminal Bandeira rumo ao Terminal Campo Limpo.
Já no no Terminal Bandeira o ônibus lotou, sentei em um “chiqueirinho”, um espaço entre dois bancos, ele partiu exatamente as 13:45hs, nos primeiros 500 metros de viajem já nos deparamos com um transito fora do normal de carros, coletivos públicos, motos. Pensei que não duraria muito pois logo entraríamos no corredor de ônibus. Mas por uma coisa eu não esperava, a quantidade de pessoas que iriam para o mesmo lugar que eu. A minha primeira idéia era dormir e fingir que não estava tudo bem, meu plano era chegar em casa e ver o jogo do começo ao fim. Mas esteva impossível pregar os olhos, no primeiro ponto depois do túnel da 9 de julho, cerca de 25 pessoas se aglomeraram na porta tentando entrar no ônibus que já estava cheio. As portas são automáticas, o ônibus só anda quando as portas estão fechadas, e ninguém saía das portas, as duas pontas do ônibus vazias, frente e fundo, e na porta, uma verdadeira guerra para ver quem entrava ou não. Eu observando tudo isso aflita, pois tinha pressa mas me divertindo em ver toda aquela confusão de fora, descobri que mesmo os homens sendo maiores e mais fortes, eles estavam sendo massacrados pela mulherada apressada, elas eram muito mais dinâmicas, se enfiavam em qualquer buraco, enquanto os homens ficavam esperando uma boa hora de entrar no ônibus, fiquei um pouco penalizada, quando no fim de 20 minutos o ônibus partiu e deixou para trás vários homens com fisionomias cansadas, e loucos para chegar em casa e ver o tão esperado jogo.
E foi assim nos outros três pontos da 9 de julho depois do túnel. A mesma novela, abarrotada de pessoas. Parecia que tudo ia explodir, os vidros, as portas, entendi por que existem outros coletivos, estragados, nunca entendia como se podia quebrar as portas, mas nesse sia entendi muita coisa. Nunca tinha visto tanta gente enfiada no mesmo lugar. Pela manhã em minha aula, aprendi sobre o espaço vital necessário entre as pessoas, era totalmente diferente da realidade que eu estava vivendo naquele ônibus. E ao nosso redor carros de luxo equipados com ar condicionado, e com apenas um passageiro, números taxi cistas irritados, motoqueiros que pareciam baratas tontas com sua buzinas infernais, e os camelos com suas perucas verdes e amarelas, cornetas, passeando por entres as filas de carros. E ao redor de tudo isso, Prédios e mais prédios, com infinitas janelas, em algumas tinha uma singela bandeira do Brasil ou alguém assistindo o apocalipse de carros com uma camiseta da seleção.
14:55, estávamos preso na saída da 9 de julho para a Cidade jardins. Um transito que eu realmente nunca tinha visto, parecia mesmo fim do mundo, só que verde e amarelo.
Tentei fechar os olhos, mas não dava, a angustia era maior. Existem umas figuras estranhas e distintas, nos ônibus que parece sugar a nossa energia do outro e tudo vira uma coisa só. Tinha na minha frente uma mulher vaidosa, loura que atravancava os corredores e era chata igual uma colega minha de trabalho. Ficava comentando tudo comigo e eu com uma cara de pão amassado.
Mas a coisa mais interessante de se assistir em um ônibus lotado, é uma briga. Como se já não bastasse os dois individuas que discutem, aparecem duas torcidas que acabam se dividindo, e formando pequenos atritos em todo ônibus.
Dependendo do dia, mês ou semana, parece que está todo mundo com o mesmo animo, ou todos falantes e tagarelo, ou todos sonolentos, e desanimados.
Nessa minha viajem o que tínhamos em comum era a espectativa de ver o jogo.
Quando finalmente chegamos na Av. Francisco Morato, entrou uma passageira que foi até o final da viajem perturbando o coitado do motorista, com fazer idiotas, e foi ela que dividiu as torcidas, enquanto alguns riam dos gritos, e ofensas que ela derramava para o motorista, outros se incomodavam com a vulgaridade da moça.
Finalmente depois de 25km em 2 horas e meia. Chegamos ao terminal, eu precisei pegar outra condução. Fiquei um tempo e uma fila, e assim como o primeiro ônibus, a lotação, deu jus ao nome e lotou, enquanto o magrelo do cobrador pedia aos passageiros para que “dessem mais um passinho”. Não deu certo, como o veiculo era menos, as pessoas se uniram e começaram a gritar e a bater em todas as partes no veiculo, manifestando para que o motorista partisse. No meio dessas pessoas tinha um grupo de amigos todos caracterizados, com perucas, toucas e cabelos pintados de verde e amarelo. Enquanto um tinha uma corneta o outro tinha uma buzina de bicicleta que mais parecia a de um caminhão. E eu no meio de tudo isso louca quase.
O motorista partiu, foi até o final sem soltar ninguém, um dos passageiros soltou a vinheta “mora todo mundo no mesmo lugar?” o outro respondeu, “é todo mundo periferia. Bobeira. Mas no fim desceu todos no mesmo lugar. Enquanto eu caminhava até chegar em casa, observava as pessoas nas ruas assistindo ao jogo, nos bares todos vidrados, as crianças corriam com os barulhinhos na boca. Tinha até o atrasado que pintava a rua de verde amarelo. As coisas estavam todas no mesmo lugar, os traficantes, o lixo nas guias, as crianças magrelas e descalças, as ruas esburacadas, os bêbados, (até os “bufões” estavam de verde e amarelo),tudo da mesma forma, o que colocava alegria para camuflar a tristeza do cotidiano era a Copa do mundo, e o futebol da nossa seleção. Por um instante aquela hipocrisia coletiva me comoveu.
Poucos minutos antes de eu chegar em casa, estava subindo um escadão, que tinha um vista panorâmica, e quando estava na metade do escadão o Brasil fez o primeiro gol, eu tive o privilégio de assistir famílias e famílias vibrando energicamente, por uma coisas que acontecia do outro lado do atlântico, fiquei muito emocionada. Pois é, ninguém escapa, por mais duro que seja o coração, ver um menininho correndo e gritando “gooooool”, foi lindo, eu não precisava assistir mais nada, aquela viajem por entre sentimentos humanos já me deixava satisfeita.
Quando cheguei no topo do escadão, e dei a ultima olhada pra traz, pensei que não era só aquele bairro que torcia em frente a uma televisão pela seleção brasileira, mas sim cerca de 190 milhões de brasileiros, distribuídos, por 26 estados.
Cheguei em casa as 16:45h. Não quis assistir o fim do jogo.




*FOTOS:1.Passageiro Av. Paulista, Patricia Araújo. 2.Estação Sé do Metrô, André Vicente. 3. Torcedores Anhangabaú, Daniel Marenco

segunda-feira, 14 de junho de 2010

“Conheceram-se. Ele a conheceu e a si próprio, pois na verdade jamais soubera quem fosse. E ela o conheceu e a si própria, pois, mesmo já se conhecendo, nunca pudera se conhecer assim.”

-ITALO CALVINO - O Barão nas Arvores-

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A árvore da serra


— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!



-Augusto dos Anjos-

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Cada um com sua metade.

Aos 17 anos Maria Aparecida Rosa se apaixonou perdidamente por Joaquim, e depois de muito namorar escondido, Joaquim resolve pedir a mão de Maria. Mas a família da moça não permite, por motivos que não fazem o mínimo de sentido, isso do ponto de vista do casal.
E então para poder viver esse amor proibido decidem fugir e se feliz.
Fugiram, fugiram e fugiram até chegar em São José dos olhos azuis, interior de Lençóis Verdes. Juntaram seus paninhos com o pouco que tinham e compraram uma linda casinha que supria todas a necessidades e que tinha um belo jardim.
Depois de um ano instalados em São José dos Olhos azuis, Maria deu a luz a uma linda menina que foi batizada com o de Jomara, mistura de Joaquim com Maria.
E tudo parecia bem, até que Maria engravidou novamente, mas no oitavo mês da gestação algo deu errado e o bebe não consegui nascer. Mas a mãe logo superou a perda e em pouco tempo engravidou novamente, mas assim como da ultima vês o bebe se perdeu no caminho para esse mundo.
Enquanto Jomara crescia forte e feliz, Maria engravidou oito vezes e nas oito vezes foi infeliz. Nada conseguia explicar a dificuldade das gestações. Foi quando Maria cansada de tanta simpatia e prece e reza e idéia furada, resolveu apelar para o santo da cidade, São José dos Olhos Azuis, e fez uma promessa, de que todo filho que nascesse com a ajuda do santo teria o seu nome.
E assim foi, depois dessa promessa Maria teve oito filhas, e todas as oito meninas foram batizadas pelo nome de Josefa Aparecida Rosa. E com a dificuldade de chamar as filhas, além do nome de batizado todas tinham um apelido, curtinho pra não complicar, Zéfa, Finha, Cida, Tida, Josi, Sinhá, Titá e Rosa.
Jomara que tinha uma grande diferença de idade das irmãs, ajudava a mãe a criar as meninas. A família das Josefas era muito conhecida na cidade de São José dos Olhos Azuis não só pela promessa da mãe e o nome das filhas, mas também pela beleza que todas as mocinhas iam ganhando ao crescer. Era uma mais linda que a outra, todas tinham uma característica distinta, além dos profundos e brilhantes olhos azuis. Zéfa a primeira depois da promessa tinha lábios carnudos e vermelhos em um rosto perfeito. Finha tinha saboneteiras em um colo convidativo que entrava em harmonia com o corpo escultural. Cida tinha bochechas rosadas que lhe davam um ar de uma frágil boneca de porcelana. Tida tinha um narizinho arrebitado que parecia pedir um beijo. Josi uma pele com um eterno bronze natural e pernas cumpridas. Sinhá tinha cabelos cumpridos, negros e lisos, que bailavam com qualquer brisa. Titá uma voz mansa que alegrava a família com lindas canções e um sorriso que contagiava até o ser mais depressivo. E finalmente Rosa, a caçula, a mais bonita, a que tinha a junção de todas a belezas, linda e linda, que chega me da um aperto no coração só de falar. Rosa causava nas pessoas, homens, mulheres, crianças, um descontrole, não tinha quem não sonhasse com ela, para tela como mãe, mulher, como estatua, ou simplesmente como imagem, as mulheres sofriam, pois sabiam que nunca seriam chegariam a ser belas como Rosa, e a amavam mesmo assim, era impossível não amar Rosa.
O pai Joaquim, não conseguia sozinho domar todos os rapazes apaixonados que apareciam em sua porta, Jomara a filha mais velha e a menos bonita (quase feia) ajudava a vigiar as oito mocinhas.
Apesar de todas serem lindas, elas não se importavam com as tantas propostas que tinham, não ligavam pra namoro, elas queriam cantar, atuar, bordar, cozinhar, brincar. A única que se assanhava com um baile, uma festa, qualquer lugar onde os olhares apaixonados a seguia. Ela achava que namorar era a coisa mais linda que se podia fazer, e sempre que podia inventava uma desculpa para o pai tentando o convencer a deixa-la namorar.
E quando mais o tempo passava, maior era o fuzuê na porta de Joaquim, diariamente aparecia um louco apaixonado, e eles vinham de cada vez mais longe, com presentes cada vez mais absurdo tentando convencer o pai em ceder, sem contar nas cartas, buques, bombons, carros de mensagem, presentes, que as outras irmãs recebiam diariamente.
Até que lá pelas tantas Joaquim resolveu ceder, e aceitou o pedido de namoro a um rapazinho, não sabemos o nome, e nem o porque Joaquim resolveu ceder mas assim foi. Então toda tarde Rosa se sentava no sofá da sala ao lado de seu namoradinho, e em frente se sentava Jomara, observando cada movimento. Nada acontecia, toda tarde era isso, um dia o rapaz sentou passar a mão pelos ombros de Rosa, e Jomara deu um berro dizendo para para “imediatamente com aquela pouca vergonha”.
Rosa começou a se encher com aquela situação. Não sabia que namorar na verdade era tão chato, e apesar de tanto assanhamento era nova e não queria mais interromper suas brincadeira no quintal para ficar sentada no sofá.
Então terminou o namoro, para a infinita tristeza do rapaz, e resolveu seguir o exemplo das outras irmãs.


Quando Rosa chegou aos seu 19 anos, chegou na cidade de São José dos olhos azuis o Circo. E Rosa ficou encantada com as cores, as musicas, os saltos, as roupas, os risos, os aplausos e a harmonia que existia naquele lugar. Rosa descobriu que era isso o que queria fazer. Compartilhou sua paixão com as irmãs. E as oito irmãs, lindas, inteligentes e curiosas, cheias de dons naturais e aperfeiçoados, cansadas daquela cidade que nada mais tinha para se descobrir, fugiram para viver com o circo, assim como antes seus pais fugiram para viver um amor.
Com o circo viajaram o mundo, e fizeram muito sucesso com um numero chamados “ Beldades Josefas”. Se espalharam por todos países e existem vários boatos relacionados a elas, dizem que a personagem das histórias em quadrinho “Mulher Maravilha” foi inspirada em Rosa, e que a “Mulher Gato”, foi inspirada em Tita, que no circo se tornara uma linda acrobata, isso entre outras mulheres mundias e imortais que conhecemos.
A decendencia das oito se espalhou pelo planeta. Vez ou outra aparece alguém com as características marcantes das Josefas.
Jomara continuou morando em São José dos olhos Azuis, Sem se casar e cuidando dos pais, tentando consola-los pela fuga das belas meninas.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O “Eu”, é tão desimportante. Em relação as opiniões dos outros, do mundo, das coisas, da vida.
Ninguém quer saber “ o que você acha”.
Mas mesmo assim eu tenho um blog. RS
Vocês vão ter que me engulir, prometo que na realidade tentarei ser menos egoísta.

Leila Rosa

Aniversário

Nesses últimos dias fiz aniversario. E lá pelas tantas do meu dia, comecei a me questionar sobre esse tão esperado dia. Nunca fiz uma grande festa para comemorar, e realmente não sinto falta.

Sinto um certo desprezo por esse dia. O que é o aniversário, se não a afirmação de que o fim está próximo. É como se fosse um carimbo, que anualmente vem nos marcar, e dizer que enquanto nos preocupamos com discussões, e tolices, os dias estão passando e o tempo rolando. O aniversário é uma injeção que nos faz acordar sempre na mesma data e perceber que ainda estamos cagando no pau da mesma forma, e nos da aquela nostalgia e a sensação de que estamos sofrendo pelos mesmos problemas.

Ainda por cima somos parabénisados por isso, somos presenteados.


Infelizmente esse pessimismo me invade nesse dia. Ainda não sei lidar com isso.


Mas tenho que confessar no fim eu acabei cedendo e até fiz uma comemoraçãozinha boba. Tenho uma amiga que não deixaria isso passar assim, cheio desse meu pessimismo.

Valeu amigão!



Leila Rosa

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Uma dica do Amigão.

Apresentação (daquele jeito)

Quero que esse blog seja como um diário. E assim como um dia nunca é igual ao outro, sei que o que relato de um dia pode ser totalmente diferente e contraditório em relação a outro, e isso tudo sem deixar de ser eu.
E daí!?
Quero o direito de ser contraditória e fútil. Sei também que ninguém vai ler um blog cheio de futilidade, mas a futilidade existe e está ai para quem quiser crer. E eu sou uma simples garota de 19 anos tentando (ainda) criar uma identidade, e envolvida até o pescoço de duvidas, curiosidades e questionamentos. O que mais pode sair disso a não ser repetições e futilidades?!
Peço paciência, assim como tivemos com aquela criança que demorou meses para acertar “M” ou “N” em uma escrita.
Todos estes senhores estavam lá dentro
quando ela entrou completamente nua
Eles tinham bebido e começaram a cuspir nela
Ela não entendia nada acabava de sair do rio
Era uma sereia que havia se extraviado
os insultos corriam sobre sua carne lisa
As imundície cobriu seus peitos de ouro
Ela não sabia chorar por isso não chorava
não sabia se vestir por isso não se vestia
Tatuaram-na com cigarros e com rolhas queimadas
e riram até cair no chão da taberna
Ela não falava porque não sabia falar
Seus olhos eram da cor de amor distante
seus braços construídos de topázios gêmeos
seus lábios se cortaram na luz do coral
E de repente saiu por essa porta
Mal entrou no rio ficou limpa
Reluziu como uma pedra branca na chuva
e sem olhar para trás nadou de novo
nadou até nunca mais, até morrer.
Pablo Neruda
1958