segunda-feira, 21 de junho de 2010

.15 DE JUNHO DE 2010. Copa do Mundo da Africa - Brasil x Coréia do Norte

Esse foi o primeiro jogo do Brasil na Copa de 2010. E assim como em todas as copas, todo mundo se preparou para assistir os jogos. Esse primeiro jogo aconteceria as 15:30h, e todos trabalhariam meio período.
Eu tenho 19 anos e faço curso técnico de segunda a sexta-feira, das 9 às 13hs. E nessa terça-feira como em todas as outras, peguei o meu ônibus no Terminal Bandeira rumo ao Terminal Campo Limpo.
Já no no Terminal Bandeira o ônibus lotou, sentei em um “chiqueirinho”, um espaço entre dois bancos, ele partiu exatamente as 13:45hs, nos primeiros 500 metros de viajem já nos deparamos com um transito fora do normal de carros, coletivos públicos, motos. Pensei que não duraria muito pois logo entraríamos no corredor de ônibus. Mas por uma coisa eu não esperava, a quantidade de pessoas que iriam para o mesmo lugar que eu. A minha primeira idéia era dormir e fingir que não estava tudo bem, meu plano era chegar em casa e ver o jogo do começo ao fim. Mas esteva impossível pregar os olhos, no primeiro ponto depois do túnel da 9 de julho, cerca de 25 pessoas se aglomeraram na porta tentando entrar no ônibus que já estava cheio. As portas são automáticas, o ônibus só anda quando as portas estão fechadas, e ninguém saía das portas, as duas pontas do ônibus vazias, frente e fundo, e na porta, uma verdadeira guerra para ver quem entrava ou não. Eu observando tudo isso aflita, pois tinha pressa mas me divertindo em ver toda aquela confusão de fora, descobri que mesmo os homens sendo maiores e mais fortes, eles estavam sendo massacrados pela mulherada apressada, elas eram muito mais dinâmicas, se enfiavam em qualquer buraco, enquanto os homens ficavam esperando uma boa hora de entrar no ônibus, fiquei um pouco penalizada, quando no fim de 20 minutos o ônibus partiu e deixou para trás vários homens com fisionomias cansadas, e loucos para chegar em casa e ver o tão esperado jogo.
E foi assim nos outros três pontos da 9 de julho depois do túnel. A mesma novela, abarrotada de pessoas. Parecia que tudo ia explodir, os vidros, as portas, entendi por que existem outros coletivos, estragados, nunca entendia como se podia quebrar as portas, mas nesse sia entendi muita coisa. Nunca tinha visto tanta gente enfiada no mesmo lugar. Pela manhã em minha aula, aprendi sobre o espaço vital necessário entre as pessoas, era totalmente diferente da realidade que eu estava vivendo naquele ônibus. E ao nosso redor carros de luxo equipados com ar condicionado, e com apenas um passageiro, números taxi cistas irritados, motoqueiros que pareciam baratas tontas com sua buzinas infernais, e os camelos com suas perucas verdes e amarelas, cornetas, passeando por entres as filas de carros. E ao redor de tudo isso, Prédios e mais prédios, com infinitas janelas, em algumas tinha uma singela bandeira do Brasil ou alguém assistindo o apocalipse de carros com uma camiseta da seleção.
14:55, estávamos preso na saída da 9 de julho para a Cidade jardins. Um transito que eu realmente nunca tinha visto, parecia mesmo fim do mundo, só que verde e amarelo.
Tentei fechar os olhos, mas não dava, a angustia era maior. Existem umas figuras estranhas e distintas, nos ônibus que parece sugar a nossa energia do outro e tudo vira uma coisa só. Tinha na minha frente uma mulher vaidosa, loura que atravancava os corredores e era chata igual uma colega minha de trabalho. Ficava comentando tudo comigo e eu com uma cara de pão amassado.
Mas a coisa mais interessante de se assistir em um ônibus lotado, é uma briga. Como se já não bastasse os dois individuas que discutem, aparecem duas torcidas que acabam se dividindo, e formando pequenos atritos em todo ônibus.
Dependendo do dia, mês ou semana, parece que está todo mundo com o mesmo animo, ou todos falantes e tagarelo, ou todos sonolentos, e desanimados.
Nessa minha viajem o que tínhamos em comum era a espectativa de ver o jogo.
Quando finalmente chegamos na Av. Francisco Morato, entrou uma passageira que foi até o final da viajem perturbando o coitado do motorista, com fazer idiotas, e foi ela que dividiu as torcidas, enquanto alguns riam dos gritos, e ofensas que ela derramava para o motorista, outros se incomodavam com a vulgaridade da moça.
Finalmente depois de 25km em 2 horas e meia. Chegamos ao terminal, eu precisei pegar outra condução. Fiquei um tempo e uma fila, e assim como o primeiro ônibus, a lotação, deu jus ao nome e lotou, enquanto o magrelo do cobrador pedia aos passageiros para que “dessem mais um passinho”. Não deu certo, como o veiculo era menos, as pessoas se uniram e começaram a gritar e a bater em todas as partes no veiculo, manifestando para que o motorista partisse. No meio dessas pessoas tinha um grupo de amigos todos caracterizados, com perucas, toucas e cabelos pintados de verde e amarelo. Enquanto um tinha uma corneta o outro tinha uma buzina de bicicleta que mais parecia a de um caminhão. E eu no meio de tudo isso louca quase.
O motorista partiu, foi até o final sem soltar ninguém, um dos passageiros soltou a vinheta “mora todo mundo no mesmo lugar?” o outro respondeu, “é todo mundo periferia. Bobeira. Mas no fim desceu todos no mesmo lugar. Enquanto eu caminhava até chegar em casa, observava as pessoas nas ruas assistindo ao jogo, nos bares todos vidrados, as crianças corriam com os barulhinhos na boca. Tinha até o atrasado que pintava a rua de verde amarelo. As coisas estavam todas no mesmo lugar, os traficantes, o lixo nas guias, as crianças magrelas e descalças, as ruas esburacadas, os bêbados, (até os “bufões” estavam de verde e amarelo),tudo da mesma forma, o que colocava alegria para camuflar a tristeza do cotidiano era a Copa do mundo, e o futebol da nossa seleção. Por um instante aquela hipocrisia coletiva me comoveu.
Poucos minutos antes de eu chegar em casa, estava subindo um escadão, que tinha um vista panorâmica, e quando estava na metade do escadão o Brasil fez o primeiro gol, eu tive o privilégio de assistir famílias e famílias vibrando energicamente, por uma coisas que acontecia do outro lado do atlântico, fiquei muito emocionada. Pois é, ninguém escapa, por mais duro que seja o coração, ver um menininho correndo e gritando “gooooool”, foi lindo, eu não precisava assistir mais nada, aquela viajem por entre sentimentos humanos já me deixava satisfeita.
Quando cheguei no topo do escadão, e dei a ultima olhada pra traz, pensei que não era só aquele bairro que torcia em frente a uma televisão pela seleção brasileira, mas sim cerca de 190 milhões de brasileiros, distribuídos, por 26 estados.
Cheguei em casa as 16:45h. Não quis assistir o fim do jogo.




*FOTOS:1.Passageiro Av. Paulista, Patricia Araújo. 2.Estação Sé do Metrô, André Vicente. 3. Torcedores Anhangabaú, Daniel Marenco

Um comentário: